quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Nem Édipo, nem barbárie – Genealogia dos laços entre Aliança e a Sexualidade



[1ª edição, lançada em 4 de fevereiro de 2010]


É sabido que no debate público a respeito das alianças contemporâneas, especialmente no momento em que homossexuais reivindicaram direitos de família na França, boa parte dos psicanalistas manifestaram-se contra tais mudanças. 
Para tanto, entrincheiraram-se no Édipo que, sem dúvida, ocupa lugar central na psicanálise desde Freud, considerando-o como contraponto ao que eles passaram a nomear de barbárie. 
O Édipo – condição fundante da subjetividade humana – foi posto num campo de batalha em oposição à ameaça supostamente conduzida por famílias de homossexuais e de lésbicas. 
Lei e Desejo – enraizados no coração do Édipo – foram e ainda são conceitos normalmente invocados quando se exige a interlocução entre Psicanálise e Direito. 
Por sua vez, o autor faz lembrar que a homoparentalidade é somente uma dentre outras formas de aliança conjugal e familiar que buscam legitimação social no cenário contemporâneo. 
As ‘uniões livres’, as ‘produções independentes’, as famílias ‘recompostas’ e ‘adotivas’, entre outras, demonstram que a sexualidade, a aliança e a reprodução humana se dissociaram completamente ao longo das últimas décadas. 
Na contramão dos psicanalistas que avocam elevados ideais civilizatórios, o autor demonstra que, mesmo na versão estrutural formulada por Lacan, o Édipo condensa os contornos da família pequeno-burguesa e, por isso, acorrenta os registros que hoje em dia se encontram desatrelados. 
Para tanto, ele lança mão da genealogia de Foucault e a explora no limite da radicalidade com que este último critica o Édipo enquanto eixo formador da subjetividade. 
O Édipo para Foucault é uma matriz moderna pela qual cada sujeito passa a administrar sua sexualidade e a si próprio numa sociedade cuja arte de governo está centrada no poder sobre a vida humana. 
A psicanálise teria sido aquela que recuperou o sistema de aliança face à falência da antiga gestão familiar e à valorização do dispositivo da sexualidade, lançando mão do Édipo enquanto instrumento principal dessa empreitada. 
Por seu turno, o autor insere na esteira dessa crítica, a ideia de que o Édipo herdou também vetores históricos das alianças entre homem e mulher e entre pais e filhos, o que revela o estreitamento ainda maior entre psicanálise e cristandade ou ainda, a racionalidade científica burguesa. 
Donde a necessidade de revisão urgente do Édipo, com tudo que ele implica, a saber, a Lei simbólica fundada na diferença sexual e no referencial fálico, em face dos jogos de força na atualidade. 
Mas, não se trata aqui de um libelo contra a psicanálise ou, simplesmente, contra o Édipo. 
Ao contrário: a tarefa de recolocar essa discussão nos trilhos da genealogia é bastante promissora, pois permite chamar atenção para a complexidade da psicanálise, sobretudo, do seu fundador, Freud. 
Não é preciso abdicar do Édipo para perceber que o saber freudiano se avizinha das experiências éticas e estéticas da ars erótica, criando, assim, outras formas de interlocução com o Direito e a Filosofia frente aos desafios da vida contemporânea. 
Desse modo, este livro interessa aos que, oriundos da Psicanálise, da Psicologia, do Direito, da Filosofia e das Ciências Humanas em geral, se inquietam com tais desafios sem sucumbirem a idéias acabadas de civilização e barbárie, cuja polaridade se mostra muitas vezes mais próxima do esperado.


Eduardo Ponte Brandão 
Doutor em Teoria Psicanalítica/ UFRJ;
Mestre em Psicologia Clínica/ PUC/Rio;
Psicanalista;
Psicólogo do Tribunal de Justiça/RJ;
Professor do curso de Especialização em Psicologia Jurídica UCAM/AVM;
Professor de graduação em Psicologia UNI/IBMR;
Co-organizador do livro Psicologia Jurídica no Brasil.







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